Olha pra mim!

Vamos falar de "futilidades"? Acompanhando diariamente o Reality Show mais assistido e também mais criticado e entitulado de fútil pela grande massa dos pseudo-intelectuais, me debrucei sobre Lia, a minha verdadeira vencedora do BBB desse ano. Tentei ler um pouco a criatura que, mais do qualquer outra coisa, sofreu, ao ir fundo no seu relacionar-se com o outro.(Abro um parênteses para deixar registrado que isso compete apenas aos fortes, ok?). Ela foi duramente criticada , mas a verdade é que foi apenas incompreendida.Isso ocorre porque Lia é o exemplo do ser humano que rema contra a maré ao tentar relacionar-se profundamente , numa sociedade onde impera o individualismo e a superficialidade. O ser humano não está mais interessado no seu próximo, não há mais tempo para o outro. E quando ela tentava a difícil e praticamente extinta arte do relacionar-se, do envolver-se, do preocupar-se, foi sumariamente execrada.E vai a pergunta: Porque ela perdeu o jogo para a futilidade? Será que as pessoas de fato, preferem o sorriso falso às palavras àsperas advindas da sinceridade? O fato é que nunca se desprezou tanto a questão afetiva, e os grandes problemas que afligem o homem , vem exatamente daí, e o mal do nosso tempo, a depressão, é exemplo disso. A superficialidade no relacionamento interpessoal é característica indiscutível na nossa sociedade contemporânea, onde se nutre a competição, disputa, rivalidade, e onde impera a desconfiança. O ser humano se isola e se sente cada vez mais sozinho.E o que é pior: acostumou-se a isso. Blaise Pascal se referia ao ser humano como o único ser capaz de ter consciência da sua existência e de pensar sobre suas relações com os outros homens .Sabe da miséria desse ser humano devido a sua imensa fragilidade. Olhar para dentro de si e saber quais são os seus anseios é algo que dói. O refletir sobre a própria existência é um desafio que poucos estão dispostos a enfrentar. Vivemos a fuga do ser humano de si mesmo, ou seja: vivemos o ápice da depressão. Necessitamos desenvolver urgentemente a sensibilidade e nos reestruturarmos nas relações humanas. Necessitamos olhar para o outro e nos enxergarmos nele, como seres imperfeitos e incompletos e entendermos que só nos completamos quando nos relacionamos. Mas está na frente aquele que ainda não deixou que se perca em si a capacidade de, não apenas olhar para o outro, mas enxergar esse outro como seu semelhante, tentar compreende-lo e aceita-lo , e perceber que é invariavelmente no outro, que encontramos a autocompreensão.