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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

UMA ÍNDIA

Um texto de Cícero Cavalcante, como uma declaração de voto e de amor à honestidade simples e à inteligência disponível  .


Eu queria, juro que queria ver isso. O desmantelo. A limpeza desse pau de galinheiro cheio de merda e fedor de titica em que foi transformado os poderes executivo e legislativo do Brasil. Porque galinheiro que se preza é assim:  a merda é feita lá em cima, pelas cloacas sem penas de todos os rabos presos politiqueiros, mas cai aqui embaixo, inundando a raia miúda do resto da comilança desenfreada e da galinhagem sem limites desse Brasilzão podre.
Nessa minha ficção atordoada eu imagino que um povo inteiro tenha tomado vergonha na cara. E tenha se chamado aos brios, com uma vontade única e nunca vista por esta imensidão de Pátria.  hoje Pátria desalmada para as necessidades dos seus filhos. Hoje Pátria mal amada por um conluio de comandantes, já cegos pelo brilho ofuscante do poder.
Eu imagino esse mesmo povo fazendo dos seus votos, a arma pacífica da sua própria libertação. Caminhando quase que em ordem unida, marchando aos acordes do hino Nacional Brasileiro, em altos brados retumbantes dentro de suas próprias consciências.
Calados. Introvertidos. Concentrados como a infantaria nos fronts de guerra. Cada um com sua vingança prestes a ser consumada.
Como arma, a escolha, o sufrágio. Um punhal de lâmina fria e afiada a ser cravado no peito do gingantismo que se transformou a desobediência, a falsidade, a desonestidade e o desrespeito dos que afrontam a dignidade e esculhambam a probidade e a honra.
Tão poderosa arma, que fará desabar no chão - na desarticulação do tombo inesperado - os que se imaginam acima do bem e do mal, mas que de uma hora para outra, podem virar massa humana disforme, exalando seus apodrecimentos  nos cemitérios das inutilidades públicas, localizados nas próprios fossas onde passaram todas as suas vidas.
E surgirá uma índia, vinda das sombras da floresta amazônica. E a índia surgirá impávida como Bruce Lee. Um heroína do bem, que opta pela preservação e não pelo desabamento. Uma paladina da justiça que descerá numa estrela cadente, colorida e brilhante, e não de outra decadente e rubra de vergonha.
Uma lutadora de velocidade estonteante, que mesmo na rudeza de sua criação, trará honestidade , hoje mais necessária que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias.
E tomara que venha com a indignação própria dos humilhados. E levante sua bandeira bem alto e a partir dela comece o desmontar da indústria da roubalheira, hoje repleta de instrumentação precisa e de segredos guardados a sete chaves. E chafurde o merdeiro da Petrobrás. E levante a caixa preta dos mensalões. E exponha a público a vergonha dos gastos desenfreados que compram consciências e posturas, sob o título de implantação do socialismo que hoje desmoralizaria os lapidares que o  criaram.
E na pecha sem tamanho de ver tais safadezas expostas ao mundo, todos guardaríamos esses criminosos em prisões fétidas, afastados de uma sociedade que só quer paz, trabalho e justiça.
E aquilo que nesse momento se revelará ao povo, surpreenderá a todos, não por ser exótico, mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto, quando terá sido óbvio.
E eu quero essa índia lá. Deus há de querer essa índia lá. E com ela um novo Brasil. Um Brasil que me orgulhe. Que me faça sentir filho e não um pária cuja honestidade lhe seja descabida. Um Brasil que me honre. Um Brasil que reconheça que acima da vontade de qualquer pessoa, existe o direito de todos, na ordem e no progresso. E nunca na desordem e no retrocesso.
Pelo menos sonhar ainda é possível.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010




PROCURA-SE

Ela é uma mulher bonita.
Bonita mesmo, de verdade.
Uma mulher bonita, uma amiga bonita, uma esposa bonita…
Uma mãe maravilhosa.
Mas não é da mulher que vou tratar nesse texto. Preciso voltar aí pra mais de 30 anos.
Ela   era uma menininha de pouco mais de 5 aninhos? Não tenho muita exatidão de datas, porque  quando ela me contou sua história, tentava inutilmente disfarçar  sua voz mudando, e seus olhos marejarem.
Eu, fingida como sou, me fiz de distraída , mas prestei foi muita atenção,mesmo  fingindo, como ela,  que o assunto nao tinha muita importância…
Mas então ela era uma menina, uma criança  quando seus pais se separaram.
Eu trago comigo que quando um casal se separa, existem sempre as 3 versões para o acontecido:  a dele,  a dela, e a real.
Pessoas se apaixonam a todo instante , e deixam de se amar a todo instante, se não na mesma proporção, numa proporção mais ou menos que equivalente.
E por alguma razão, aquele casal também deixou de se amar. Até aí, nada demais, se a mãe da menininha, ao resolver partir, não tivesse decidido deixar pra trás a sua filha. Aliás, não era só uma filhinha que ela deixou, mas sim, três.
Foram dormir com uma família, acordaram sem mãe.  Quase consigo visualizar aquele pai, de repente se vendo sem a mulher amada , tendo que trabalhar e também cuidar sozinho dos três filhos pequenos. 
E a mãe foi embora, assim, como quem assina o check –out  no hotel fazenda, pega suas malas e segue para a vida.
Após um longo tempo, houve a necessidade do divórcio. Ela precisava  legalizar a separação.
Então a menininha arrumou-se toda, ajudou os irmãozinhos a ficarem bonitos e perfumados. Sentaram-se com cuidado no sofá da sala e esperaram a visita tão aguardada da mãezinha, que não viam há tanto tempo.
No fórum, o Juíz  perguntava a ela sobre o pátrio poder, hoje, poder familiar, que a mãe exercia sobre os filhos, mesmo no caso dela, que os deixou com o pai e nunca voltou para visitá-los. Afinal, mãe é mãe, deve ter pensado o juíz.
Mas a mãe, ( pois bem, vamos lá, mocinha,  digite seu texto ).
A mãe abriu mão dos direitos de mãe.  A mãe não queria mais brincar de ser mãe. Só queria assinar os documentos e ir embora.
E assim o fez.
O pai perguntou se ela não queria ao menos dar uma passadinha em casa, pois as crianças estavam aguardando por ela  fazia horas. Fazia meses. Fazia anos….
Mas a mãe estava com pressa,  não podia se atrasar para a vida.
A menininha e seus irmãozinhos ficaram muito tristes. Muito mesmo. Sentiram-se novamente abandonados. Rejeitados. Sentiram-se feios e sem encanto. Sentiram-se  sozinhos,  como flor sem raíz, como manhãs sem Sol, como uma coisa que simplesmente está lá, mas que não tem nenhuma importância.
Enxugaram suas lágrimas e seguiram em frente, porque  Deus ajuda . Continuaram enxugando as lágrimas ao longo dos dias, ao longo da vida, cada qual a sua maneira.
Apesar dela ser uma mãe maravilhosa, o dia das mães é sempre uma data difícil pra ela. As meninas não sabem o que é ter uma avó, e tampouco ela sabe o que é o amor de mãe.
Mas suas filhas sabem, porque graças a Deus, existe o anti-enredo, e ela buscou ser pra suas filhas, a mãe que ela nunca teve.
Escrevo esse texto,  primeiro porque há muito tempo ele  insitia em nascer.
Segundo porque ainda hoje, ela procura por sua mãe.  Espera por ela, com o mesmo amor que a menininha um dia esperou, sentadinha no sofá da sua sala.
Procura em sites, em rádios do Paraná,  procura em segredo,procura em oração, procura por sua mãe.
E como coisas boas acontecem a todo instante , quem sabe alguém entre aqui ao acaso e conhece essa pessoa? Deus faz milagres o tempo todo e eu acredito neles. 
E  finalizo  com a cópia do “Procura-se” que ela, a menininha do sofá da sala, distribuiu  , sem sucesso, por todos os sites que ela encontrou:
Procuro por Elziana de Souza Ferreira , filha de Elza de Souza Ferreira e Teodomiro Rodrigues Ferreira e seus irmaos ,Lisete ,Silvia Jaime , Neno . Gostariamos de saber de nossa mae …. sao seus filhos Rosana de Oliveira Souza e Diana de Oliveira Souza eJulio Cesar de Oliveira Souza ,estamos ha muito tempo a sua procura ,esperamos que nos perdoe por nao ter te achado a mais tempo”.
E é por essas e outras que desacredito de mim, quando  muitas vezes penso que a humanidade não tem mais jeito.  Tem jeito sim. Porque assim como existem pessoas que dão à luz sem  ao menos serem dignas da maternidade,  existem também menininhas que, mesmo tendo sido abandonadas, ainda assim, carregam dentro de si, o amor, o perdão, a esperança do reencontro.

(Dedico esse texto à Diana, uma pessoa que aprendi a respeitar e admirar demais...)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010


“Aquela que faz os outros felizes”



Putz, já faz 10 anos desde aquele dia...
Você chegou já com aquela pressa de chegar, de ver como é que é a vida, de viver.
Lembro até a roupa que eu vestia: Uma camisa vermelha de manga comprida.
Lembro de ter (não vou chorar) ..
Lembro de ter tirado você do berço com muito cuidado, porque era tão pequenininha, que teve que ficar uns dias a mais no hospital porque nasceu antes do prazo, e teve...como é que chama aquele negócio que a criança fica amarelinha? Icterícia Neonatal ! (Thanks, Google!)
Tinha os olhos curiosos e a boca enorme....Observadora e tagarela.
Nasceu depois de uma princesinha perfeita e isso é muito complicado!
Principalmente para as cascas duras que gostam de uma confusão, mãos na água e pés no chão.
Você, pequena criatura, é uma alegria para mim.
Sabia que seu nome significa isso mesmo? ” Aquela que faz os outros felizes” ?
Sei que não falo muito, mas te observo e adoro o que vejo.
Eu te vejo!
Sei que não será nunca a ovelha acorrentada e que não há amarras capazes de te limitar.
Mas não estranhe quando pessoas comuns surgirem e tentarem estabelecer regras.
É a vida se assustando com sua sede , com sua gana de viver.
Viver muitas vezes assusta ovelhinhas felizes com suas amarras. Não se incomode com elas.
Siga , siga sempre em frente, com seus cachinhos soltos ao vento, com sua preocupação com todos, muitas vezes desapercebida pelos mais distraídos...
Siga em frente, não olhe para trás, não se distraia com coisas pequenas.
E nunca, nunca deixe se perder em você esse seu jeito doce, esse seu jeito Bia de ser...
Te amo , sabia disso?
Feliz Aniversário, flor do meu dia!

domingo, 5 de setembro de 2010

AH, EU TO TÃO ROCK AND ROLL HOJE!
TÃO ANOS 80!
SERÁ QUE ALGUEM FOI MAIS FELIZ QUE EU?







Quem sou eu?

E quem é você?
Nessa história
Eu não sei dizer
Mas eu acredito
Que ninguém tenha vindo
Pro mundo a passeio...

De onde se vem?
Prá onde se vai?
Só importa saber prá quê
Prá quem?

Pois o destino
Transforma num dia
Um menino em herói de TV...

Um dia a gente se encontra
No meio do mundo
Depois a gente se perde
No meio de tudo...

Enquanto a gente pensa
Que sabe de tudo
O mundo muda de cena
Em menos de um segundO


...UM DIA A GENTE SE ENCONTRA NO MEIO DO MUNDO...


   DEPOIS A GENTE SE PERDE NO MEIO DE TUDO....

MUITAS SAUDADES....

sexta-feira, 3 de setembro de 2010









TRABALHO VOLUNTÁRIO




A sala era pequena e mal conservada.

Os alunos pareciam estar numa feira, numa balada, em qualquer lugar, menos numa sala de aula.

A presença dela talvez tivesse causado maior agitação entre eles, afinal, havia um elemento a mais na sala naquele dia.

O tempo que se levou para fazer a chamada tomou metade da aula e ela pensou que com um ensino daquela qualidade, não se podia esperar muita coisa do futuro daqueles jovens.

Tentava inutilmente se concentrar nas suas anotações, estava ali ajudando uma ONG a organizar um Projeto Social de integração de estudantes carentes ,mas para eles, ela era uma professora.

Uma garota com menos de 15 anos, com metade dos peitos pra fora, sombra azul, blush rosa e batom vermelho contrastando com a pele negra , dezessete pulseirinhas enroladas e coloridas no braço.

Aquilo devia estar na moda, pois muitas outras pessoas usavam o mesmo adorno. Por um instante pareceu-lhe que estava nalguma tribo indígena de um local qualquer afastado da civilização.

-E aí, piriguéti,  gritou ela de sua carteira para alguém que passava nos corredores. Assim, como se estivesse na calçada de sua casa.

Pediu para ir ao banheiro. Quando voltou, a aula já estava terminando, embora nem tenha chegado a começar.

Os bons alunos, que se sentavam na frente, usavam todos eles, fones de ouvido. Quem não tinha, emprestava um dos fones do amigo, para ouvirem um sonzinho, afinal, ninguém é de ferro.

O professor atendeu alguma s ligações do celular. Negócios imobiliários. Em determinado momento, ele explicou a estagiária que aquela era uma classe com 80 % de “L.A.”

-O que é L.A., professor?

-Eles cometeram pequenos ou grandes delitos, mas são menores, e estão em Liberdade Assistida. Se não vierem a escola, vão pra a Fundação Casa, antiga FEBEM.

Que bom, pensou ela. Uma classe de menores que cometeram pequenos e grandes delitos...

O professor precisou sair por uns instantes e pediu que ela cuidasse da classe e disse aos berros:

-Se eles desobedecerem, desce o cacete, viu, professora?

Era só isso que estava faltando. Deixa-la sozinha numa sala com um bando de L.A.

Professora soou estranho, ela respirou fundo e tentou se concentrar nas suas anotações. Impossível. Parecia-lhe que aquele era um outro planeta, e ela pensou no quanto foi privilegiada a vida toda, e quantos mundos existem dentro do nosso mundo e nem nos damos conta disso.

- Mas é Brizola pura,pó dos bom, não é malhada não . Você paga pela qualidade!

Disse um garoto que não tinha mais que 16 anos a um outro mirradinho, tímido, que poderia ser filho de qualquer um de nós.

-EEEEEi, peraí, aí já tá demais! Vai querer falar de cocaína na minha frente?

-Qual é, “pssora”? O professor vende casa, eu vendo pó! Cada um no seu quadrado!

A garota de óculos ao lado , disse baixinho:

-Professora, não mexe não...Ele tem vários pontos de tráfico de drogas espalhados pela cidade. É muito respeitado aqui por todos. Já matou uns par deles assim, por nada.

Ela parou, olhou para o garoto, já em pé, apenas alguns metros dela.

-Faz um favor pra mim: Senta.

-Qual é, eu tenho orgulho do meu trabalho, não aceito que ninguém critique ele não, tá ligada?

As palavras saíram antes do cérebro pensar. A língua deve ter raciocinado mais rápido, pensou na lápide, nos 7 palmos abaixo da terra e ela respondeu:

-Qual é o seu nome?

-O nome dele é Dadinho, pssora.

-Dadinho é o caralho, meu nome é Zé Pequeno!

Todo mundo riu. Aquilo lhe soou familiar....onde é mesmo que ela tinha ouvido aquilo? Não havia tempo pra pensar e a boca sabia disso.

-Olha, eu tenho 4 bocas espalhadas por aí. Meu pai trabalhou a vida inteira nesse sol que Deus manda e só conseguiu ter uma. Só de vapor trampando pra mim, tenho uns 30.

Ela não sabia bem ao certo o que ele estava dizendo, mas se fez de tranqüila e prosseguiu:

-Eu realmente não quero saber da sua vida profissional, só não quero que vc fale de cocaína dentro da sala de aula, ok?

Aí o menino realmente se irritou: Chegando a alguns centímetros dela, disse:

-E se eu querer falá? Qual o poblema, pssora?

-O problema é que tenho trauma.

-Trauma de quê? De pó ruim? O meu é bom, qué isprimentá?

-Perdi meus 5 irmão para a cocaína. Morreram 4 de overdose e um de Aids.

Silêncio na sala. Um silêncio que não aconteceu desde o inicio da manhã.

-Puta que o pario. Morreu os 5 irmão?

-Sim, os cinco.

Ela ainda não sabia de onde é que surgiram os irmãos, as mortes, mas enfim, a boca falou e ela acatou.

-Porra, pssora, que falta de sorte, meus pesares aí pra senhora sua mãe, seu pai...

-Meu pai já morreu também.

-Overdose, pssora?

-Não. Cirrose.

-É....os pais que dá os exemplo! Cachaça faz mais mal que qualquer bagulho aí, mas é liberado!

Ela permanecia quieta e calar-se em situações de stress era um exercício que ela tinha que aprender a dominar.

-Meu pai me deu bom exemplo na vida. Ele vende, mas não usa. Eu também. Vendo , mas não sou viciado, tá ligada? Dou uns tiro de vez em quando.

-Tiro? Tiro onde? Você tá armado?

-Professora, “tiro” quer dizer que a pessoa usou cocaína, disse baixinho a de óculos.

-Entendi.

-Mas não sou viciado não. A senhora tem alguma coisa contra?

-Eu já disse que tenho trauma de cocaína porque perdi 5 irmãos por conta disso, mas é diferente, né, porque aqueles desgraçados eram viciados. Você não. Você é trabalhador!

-É, sou mesmo. Ralo pacarái! Mas, olha, vocês tiveram azar....Morreram os cinco mesmo?

-Pois é.

-Só teve a senhora de mulher?

-Não.

-Então tem mais irmã viva?

-Tenho mais duas.

-Não mexem com tóxico?

-Não vejo Cecília e Carolina há anos. Elas são prostitutas, moram na capital, não sei da vida delas.

Nesse momento ela não pode evitar a vontade de soltar uma gargalhada. Imaginou as irmãs, prostitutas na capital, ”usando salto 15 e saia de borracha” mas segurou-se pra rir mais tarde, quando estivesse fora de perigo.

-Aí já melhora, né , pssora. Melhor prostituta viva que viciado morto!

-Pois é.

-Então só a senhora que tá bem na fita, hein....

-Bem.

-Então, mas tenho uns doce aí, caso a senhora queira pegá leve...Só pra não ficá excluída da família, né?

Nesse momento o professor retornou, e lhe pareceu um anjo caído dos céus, no exato momento que ele se fazia essencialmente necessário. Mais um pouco e a pobre moça estaria comprando um doce e mais umas duas aulas e ela acabaria convencida que ser vapor dava mais lucro que pegar o giz e tentar ensinar alguma coisa que valha àquelas crianças....

Este é o Brasil, o Brasil do Lula, o Brasil da Dilma, o Brasil que muitos falam, mas poucos conhecem.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010


                                    Para se pensar

Ontem estávamos nos amando um pouco, pois por conta de tantos compromissos com estudos, tarefas e cobranças, temos tido pouco tempo pra nos amar.
Deitadas na cama, jogávamos Combate enquanto conversávamos sobre trivialidades.
-Mãe, no seu tempo de criança , as lendas urbanas eram as mesmas de hoje?
-Claro que não. Aliás, no meu tempo nem existia lenda urbana. E a gente era praticamente rural, né...
- kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, ai mãe!
-Sério. E pare de esticar o pescoço pra ver minhas peças, senão eu simplesmente não brinco mais.
-Eu to só espreguiçando!
-Espreguiçando o pescoço. Sei.
Aí ela quis que eu contasse das coisas que eu tinha medo quando criança, ou melhor, das “lendas urbanas”.
Parei, pensei, pensei...eu não tinha medo de nada. É claro que tinha a mulher do saco, que passava e levava as crianças pra comer no jantar, mas não na minha cidade.Em minha cidade só tinha a Tianinha e essa nunca botou medo em ninguém.
Do que mais eu tinha medo? Ah, sim, Tinha o Bi !
Na verdade, eu não sei porque eu tinha medo do Bi. Ele nunca fez mal a ninguém, mas me apavorava ver um homem que tinha certeza que era carro, passar todo dia correndo em frente a minha casa, parar a cada esquina, esperar o sinal imaginário abrir pra ele passar buzinando...
E tinha o Roberto, nosso vizinho, que desde que me conheço por gente, andava o dia inteiro de uma esquina a outra, falando sozinho, esbravejando. Parece que ele era muito inteligente e dizem que de tão inteligente, enlouqueceu. Também não sei porque eu tinha medo dele. Nunca fez mal a ninguém.
Agora pensando, acho que a loucura não afeta de nenhuma maneira a índole das pessoas. Uma pessoa boa , pode enlouquecer, perder totalmente a sanidade, sem perder seus valores morais.
Já os estupradores, assassinos, as pessoas más, não tem sanidade. Tampouco valores morais.
São esses os que devemos temer.
Mas não falemos de coisas ruins!
Pois havemos de reconhecer que existe uma certa graça, um certo tom lúdico na loucura.
Viver um mundo à parte, sem importar-se com conceitos pré -estabelecidos, viver cada dia sem sentir o medo do que há por vir, não importar-se ou não pensar que pessoas sempre nos julgam, não envelhecer! Os loucos não envelhecem!São sempre eles, num espaço organizado num determinado tempo que parou dentro de suas mentes.
Acho que dentro de cada louco, existe uma esperta criança, que o segura pela mão, e não o deixa ir....
-Então tinha um monte de louco na sua cidade, mãe?
-Um pouco. Não mais que hoje.
-E você tinha muito medo deles?
-Não.
-Não?? Mas eles eram loucos!!!
Expliquei que não devemos temer os loucos.Devemos temer os maus.
-Mas se a pessoa é louca.....ela não sabe o que é certo ou errado. Pode matar achando que tá certo!
-Aí a pessoa não é louca. Ela é má. Repare que geralmente nós chamamos de loucura tudo aquilo que é diferente .Nós julgamos, sem questionar, sem querer conhecer, porque é mais fácil rotular do que reconhecer que existem outros pontos de vista diferentes do nosso, e classificamos como estranhas ou erradas pessoas ou idéias que não correspondem aos padrões pré estabelecidos , a que estamos acostumados.
-Não sei se entendi...
-Em outras palavras, todos aqueles que ultrapassam a fronteira, que se desprendem das amarras , são classificados como loucos.Mas nem todos são. O que tem que se saber é qual é a fronteira entre a sanidade e a loucura?
-Não sei.
-Pois é. É difícil de saber. É difícil saber onde é o limite , onde termina o real e onde começa a loucura. E os loucos também não sabem.
Uma vez me disseram que eu era louca por acreditar que o amor existe , e procurar por ele, tendo toda uma vida organizada, estabelecida e garantida.
-Mas isso não é loucura. É coragem!
-Pra você, pra mim! Mas para muitos, é loucura.
-Então não dá mesmo pra saber o que é loucura .
-Não, não é fácil.
-Mãe, Deus ama os loucos?
-Penso que Deus ama todo os seus filhos, mas se entristece com os maus.
-Então é melhor ser louco do que ser mau?
-Acho que sim, né?
-É, eu também acho isso. É melhor ser louco e não fazer mal a ninguém, né?
-É!
-Você , por exemplo, às vezes parece meio louca, mas é muito boa pra mim. Até quando eu digo que você é má, eu sei que está só me educando.
-Que bom que você pensa assim!
-Sinal que eu não sou louca , né?
-É, apesar que ficar picando papel higiênico enquanto está fazendo o número 2, me parece coisa de gente louca....
-Mãe, vamos voltar ao nosso jogo.
..........E fim!

“ Um mal não é um mal para quem não o sente ; Que te importa se todos te vaiam se tu mesmo te aplaudes ? ( Erasmo de Rotherdan )