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quarta-feira, 24 de novembro de 2010


SURREAL

“ Sentados na arquibancada da arena de esportes
Esperando o show começar.
Luzes vermelhas, luzes verdes, vinho de morango,
Com bons amigos, seguindo as estrelas, Venus e Marte,
Está tudo bem nessa noite...”
Ao som de Vênus and Mars, ele entrou.
Voltei no tempo, quando eu olhava para aquele LP em branco e preto, e dizia:
-Mãe, eu quero me casar com Paul Mc Cartney...
De fato, a noite estava perfeita , Vênus e Marte e a Lua assistiram ao maior show do mundo.
Estado de graça. Eu olhava e via meus amigos de boca aberta, feito crianças, crianças que cresceram vendo os pais ouvindo Beatles .
E lá estávamos nós, representantes de nossos velhos pais, realizando um sonho nosso e deles também.
A gente olhava e dizia:
“-Ele é de verdade, ele realmente existe, e a gente tá aqui!”
Eu olhava um pouco além, e podia ver pais com seus filhos e esses filhos com seus filhos , todos com o olhar numa mesma direção e os ouvidos em total êxtase.
Meu desejo era só um: que todos os meus amigos estivessem ali ao nosso lado naquela hora, e meu pensamento se voltou para cada um deles.
Outras pessoas pensavam o mesmo que eu, pois podia-se ver o tempo todo, ligações de celulares com vozes dizendo assim:
-“Mãe, eu to vendo ele, mãe!”
-“Ô, meu pai, eu to aqui vendo o Paul mc Cartney!!!”
Cada um de nós tinha uma música que nos faz lembrar de algo. A minha, era Let It Be, pois me lembro da minha avó e da paz de suas palavras sábias e de como ela dizia calmamente que pra tudo dá-se um jeito.
Todo casal tem uma música, e a nossa eleita é Something.
Ficamos 2 dias reunidos esperando o domingo chegar e durante esses dois dias, todas as músicas dos Beatles foram cantadas, mas o jingle que se cantava de 5 em 5 minutos, era : “I dont know, I, dont know....” e quando Something começou, foi de fato, surreal : Fotos de George Harrison passavam no telão no fundo do palco e Sir Paul virou-se de frente para ele, homenageando o compositor da terceira música mais tocada em todo o mundo.
Palmas de mais de sessenta mil pessoas tem uma acústica maravilhosa e eu não sabia.
Fogos de artifício celebraram a nossa felicidade e um numero absurdo de bexigas brancas surgiu do meio daquela energia toda, e crescia feito pipoca e em poucos minutos estavam espalhadas pelo Morumbi inteiro. Uma delas veio parar na minha mão e naquele momento , eu me senti totalmente integrada àquela massa de energia boa.
Todos os olhares, todos os ouvidos e todos os corações unidos numa mesma direção, realizando seu sonho de menino.
“ Eu escrevi essa musica para a minha gatinha Linda, mas hoje ela é para todos os namorados” , e cantou My Love.
A paz que se viu por ali era tão absurda, que sentíamos o peito apertar de tanta emoção. Muitas vezes, não falávamos nada, para evitarmos chorar, pois tudo era intenso demais.
Foi mágico.
Naquele momento, o mundo era só sorrisos, e não havia problemas, doenças , nem mágoas ou diferenças a serem acertadas. Estava tudo perfeito naquela noite onde o universo todo conspirou a favor da felicidade.
Num mundo cheio de guerra, fome, ganânica, injustiça, inveja e intolerância, o show do Paul Mc Cartney veio nos mostrar que o mundo só não consegue a paz, porque não quer.
(Meus agradecimentos à Elaine,Dirça, Thi e André, que estiveram ao meu lado, dividiram e eternizaram comigo esses 165 minutos mágicos. Vai ficar pra sempre no meu coração. )

quarta-feira, 17 de novembro de 2010



A SAUDADE DELES TÁ DOENDO EM MIM

Não adianta.
Nessa época do ano, a saudade toma conta de tudo.
Perdoem, é uma fase, vai passar, sempre acaba passando.
O fato é que quanto mais vivemos, mais perdas vamos colecionando.
Até pouco tempo eu era orgulhosa em dizer a todos os meus amigos que tinha meus avós maternos e paternos ainda vivos e muito saudáveis.
Eu tinha uma família linda!
Por conta de minha mãe ter mais irmãs que meu pai,e morarmos no inteiror, a casa da vovó era sempre mais cheia.
Mas a casa de meus avós paternos também me encantava. O cheiro da casa, a escada que levava até o quintal, as novidades da capital em épocas que ainda não havia a globalização...
A primeira vez que vi um microondas funcionando, foi lá. As maiores TVs, as novidades cibernéticas, o charme dos cabelos grisalhos e bem cuidados de minha avó, a fineza e o charme de meu avô. A casa tinha cara de férias pra mim. De lá, sempre íamos pra praia, playcenter, shopping centeres...
Primeiro foi meu avô, depois minha avó. Por ultimo, meu pai.
VÔ Henrique era tão lindo, tão elegante e inteligente... Ele sempre vinha me ver, não importando as adversidades. Calmo e paciente, ah, como eu amava vê-los chegar!
Vó Nadir com seus lindos cabelos brancos e seu cheiro de perfume de avó. Lembro-me dela comendo suas frutinhas frescas, assistindo TV ao lado do vô. Sua pia era sempre tão branquinha, a casa tão limpa e vê-los sentados naquele sofá da sala me trazia felicidade.
A casa do interior, a mais movimentada, era habitada por filhas, genros, netos, vizinhos , agregados e quem mais quisesse chegar.
O cheiro do feijão, do pão, do café fresco, do peixe frito e do fumo de corda eram uma constante. A casa não tinha trancas nas portas e se tinha, nunca era usada.
Por lá, se a alegria era maior, as perdas foram maiores também.
Meu tio Gallo era um homem bonito, recém casado, recém pai do Alê. De olhos verdes, pouco mais de 27 anos quando se foi, deixando uma linda e jovem viúva e seu filhinho pra trás. Na foto ele aparece abraçado com ela, num domingo qualquer de carnaval, pouco antes de ir embora. As fotos do jovem com seu filhobebê também é ele, e o Alê.
O Alê foi crescendo, e se tornou uma pessoa extremamente popular e querida de todos. Era o cara que qualquer um olha e diz: poxa, como esse cara é feliz! Esse tem sorte na vida! Vai longe! Não conseguiu chegar a cidade onde ia com os amigos apresentar-se num festival de musica. Elegi aquela como a pior noite de toda a minha vida e noites difíceis se sucederam , e ela continua sendo a pior de todas.
Depois foi a vez do nosso agregado mais amado: Waldir Gatto, o Gattão. Na foto pode-se ver o Alexandre com olhos cansados, ainda pequeno em seus braços. Era o tipo de um pai postiço. Pro Alê e pra todos nós. Um belo gajo,solteirão convicto, topete grisalho, sempre presente em todos os momentos da nossa vida. Lembro que ele nos enfiava dentro de uma carrocinha dessas de pedreiro, e saíamos passeando pela cidade.
Ninguem tinha medo de trânsito, nem de ladrão e todos confiavam-se mutuamente. Dele, ganhávamos muitos presentes. Era a época da inocência e não nos dávamos conta disso.
O vovô , não posso falar dele. Só digo que foi o homem que mais amei e foi através dele que criei minhas referência masculinas e talvez seja por isso que me tornei tão exigente.É ele deitado em seu sofá, abraçado a mim e a mochilinha. É ele ao lado da vovó, é ele vestido de cangaceiro, é ele com a mochilinha ainda bebê nos braços. Viveu até os 103 anos e pra mim, foi pouco demais. Quando ele se foi, minha vida virou uma saudade que não tem fim, não dá trégua, nem arrego.
Meu pai foi a mais recente perda. Na foto, sentado ao lado do vovô, foi num dia em que ele veio de Recife pra São Paulo e sabendo do estado de saúde duvidoso do véio Américo, veio visita-lo, o que trouxe uma enorme alegria a todos. É ele também abraçado a mim na varanda do seu apartamento em Recife, é ele sentado no chão , observando a mochilinha brincar, pular, pular e de repente cair em sono profundo lá mesmo, no chão da cozinha.
Essas pessoas foram as mais importantes na história da minha existência. Uns foram embora cedo demais, outros nem tanto e outros aproveitaram até o ultimo momento da viagem.
A casa da minha existência sempre será incompleta sem a presença deles . Existe um vazio no tapete da sala de estar, , no quintal, na cozinha, na calçada da minha vida.O lugar de cada um ficou vago na mesa . Outras pessoas vieram e ainda virão, mas a ausência deles será sempre presente, e naquela mesa, sempre estará faltando ele, e a saudade dele, vai doer sempre em mim.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A meu pai adotivo                                     



Francisco Itaerço é um poeta de um nível intelectual admirável.
De uma genialidade e sensibilidade imensuráveis.
É também, desde pouco tempo atrás, meu painho de coração.
Sim, a meu pedido, ele me adotou como filha de coração.
Ele me homenageou, citando essa princesa sem castelo entre nomes tão importantes.
Retribuo sua homenagem, se é que isso é possível,
Postando seu poema aqui no meu blog.
A bênção , Painho!





QUEM FUI? QUEM SOU? QUEM SEREI? -UM POEMA DE FRANCISCO ITAERÇO


“A coisa mais difícil é conhecer-se a si mesmo” (Tales de Mileto)

Meio século de existência,
Não sou nada, não existo
Sou pura ineficiência
Sou somente meu registro.

Fui fabricado em série
Em escolas e universidades
Fui sempre uma minissérie
Das novelas de verdade.

Sou meu pai e minha mãe,
Meus filhos e meus amores,
Meus amigos e meus alunos
Sou também meus professores.

Fui Ghandi, fui Joana Darc,
Jaques Demo Lay, O Templário
Fui imperador romano
Só não fui incendiário.

Fui Nelson e fui Gonçalves,
Fui muitos outros também,
Sou Roberto e sou Carlos,
Caetano e Fafá de Belém.

Fui Tiradentes, e Zumbi…
Fui preso em sessenta e quatro
Só não fui executado
Porque fugi para o mato.

Aqui no Jota Bê Efe:
Sou toda esta fubanada,
De tudo eu sou um pouco
Eu sou um pouco de nada

Sou o Cícero Cavalcanti,
Sou Luciane Trevejo,
Sou o amanhã e o ontem
Sou o amor e o desejo,

Sou o professor Luiz Otávio
Num AP de frente ao Mar,
Escrevendo textos pra neta
Do décimo segundo andar.

Serei ainda, quem sabe?
Xico Bizerra e Hellen Quirino,
E o colunista João Procópio
Que sou fã desde menino.

“De jumento ao Parlamento”
Serei Raimundo Floriano,
Serei Laélio Ferreira
O mundo todo glosando

Sou Leonardo Leão
Sou Goiano Braga Horta
Pouco importa a oposição
Divergências pouco importa

Sou Marco Di Aurélio,
Sou o Padre Irineu Batista:
Um fiel aqui da ICAS
Que a muito perdi de vista

Sou o Huytamar de Freitas
Lá da Rádio-Peão
Sou o bispo Jorge Filó
E o Ismael Gaião

Serei todos esses letrados,
Até mesmo o papa Berto
E pra quem não foi citado
Deixo meus versos em aberto.

………………………………………..

No momento sou o que sou
Meio nascente, meio poente…
Vou consultar meu DNA
Acho que nem sou meu parente.

Mesmo quando pleno de mim
Sou um poeta simplesmente
E poeta todos nós somos
Difícil mesmo é ser gente.

Quem sou eu? Você sabe? Eu não sei.