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quarta-feira, 20 de abril de 2011

E existe razão?

(Para Daviane e Burga)

-Poxa! Acordou inspirada hoje hein!
-Pois é.
-O que aconteceu?
- Nada, ué!
-Teve algum sonho erótico?
-Eu não.
-Tem certeza?
-Tenho.
-Mas que pressa, hein!
-Então. Tenho plantão no hospital daqui a pouco.
-E o que isso tem a ver?
-Estou com pressa.
-Parece até coisa de homem, que chega chegando, sem pedir licença e já vai logo ao assunto...
-Mas se o melhor de tudo é o assunto...
-Poxa !
-Algum problema? Você se incomodou, Eduardo?
-Não, só to comentando.
-Ahan... Acho melhor não comentar...
-É que assim, sem beijo na boca, com tanta pressa e furor, eu estranhei.
-Beijo na boca é pra fazer amor.
-Como é que é?
-Beijo na boca é pra fazer amor.
-E o que foi que a gente fez??
-Nós transamos.
Eduardo tentou conter sua irritação .Era um excelente representante de sua espécie, não pegaria bem fazer biquinho e ficar de mal. Levantou, pegou um copo de água, acendeu um cigarro e ficou olhando pro teto, em silêncio.
-Vem cá, vai, Edu...
-O que que é agora?
-Fala baixo pra não acordar os gêmeos! Desfaz o bico, apaga o cigarro, coloca Os mutantes ou Caetano pra tocar e vamos fazer um papai-mamãe.
-Não precisa ser sarcástica não, só te achei um pouco ...um pouco....
-Um pouco agressiva?
-É...sei lá..
-Eduardo, você vai querer que eu te libere o cartão de crédito para uma tarde de futebol de botão no shopping também? Quer que eu mande flores? Ou quer que eu lhe faça uma poesia?
-O que você está querendo dizer com isso, Monica?
-Naada, amor....só estou querendo chamar sua atenção, pois tenho sentido você tão distante....Você acha que eu engordei? Será que preciso de um peeling facial? Acho que estou feia, por isso você não liga mais pra mim, é isso....
-Não, amor, não é nada disso! Você está linda! Você é a coisa mais linda dessa vida. Lembra quando nos conhecemos? Você falava coisas sobre Brasília, sobre magia e meditação ...
-Edu, quando nos conhecemos eu era esotérica, vivia bebada e nem sabia se queria ser lésbica ou hétero.
-Ah, Moniquinha, você sempre foi a mulher da minha vida! Me ensinou a beber, a fumar maconha....
-Que nada, você não me ama mais, perdi o encanto pra você quando me decidi sexualmente e terminei minha residência...Virei uma mulher...de família! É o fim, é o fim....
-Imagina, amor, deixa de bobagem, e vem aqui com seu Edu, vem...
Pronto. Mônica, esperta que só, conseguiu resolver o probleminha de insegurança masculina.
Embora fossem diferentes em tudo, eles se entendiam bem, e ela sabia que de fato, não existia razão para aquela encanação toda...

“ ... E todo mundo diz que ele completa ela e vice versa, que nem feijão com arroz...”
( Eduardo e Mônica, Legião Urbana, 1986)

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Eu já falei aqui no meu Blog, de Francisco Itaerço, poeta , pai, amigo ,ser humano de primeira grandeza , que me adotou há algum tempo como filha, embora eu já o tivesse adotado antes, como pai.
As coisas que ele escreve, são um carinho pra qualquer criatura que seja portadora de um mínimo de sensibilidade.
Hoje, eu ja acordei emocionada, por conta de um filme que assistimos ontem: Estamos todos bem, com Robert de Niro. Chorei e reclamei, dizendo que nao assisto mais filme de chorar.
Aí vou ler meu jornal preferido e dou de cara com a carinha dele . Pensei: Epa! Texto de painho! Coisa média nao é! E comecei a ler. Ja estava com aquele nó na garganta pela epígrafe. Aí começa a poesia. E eu me contendo. Mas, quando chegou no final, ele me deu um golpe fatal, aí já viu: nao deu pra segurar.
Esses são os presentes, o lado bom da vida virtual, muitas vezes mais real e mais profunda do que se pode imaginar.
Obrigada, painho.
Obrigada .







DESABAFO
UMA POESIA DE FRANCISCO ITAERÇO

“vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não vem de vós.
E, embora vivam convosco, não vos pertencem…
(…)Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.” (Gibran)



Bendito o útero que gera,
Bendito o seio que cria;
Maldita as circunstâncias que obrigam
Os pais a abandonarem a cria.

Bendito os filhos que crescem,
Bendita a causa justa que os afasta de nós;
Maldita a solidão que sentimos
Quando ficamos a sós.

Filhos, uma dádiva de Deus:
Nascem, desenvolvem-se e nos deixam.
Portanto, quem os tiver
Curta-os antes que eles cresçam.

Porque de nada lhes adianta
O imenso saldo de afeto,
Pois jamais tê-los-ão
O tempo todo por perto.

Se eles crescem e nos deixam,
Diz-me, Senhor, por que tê-los?
Mas se assim não o fizer,
Meu Deus, como vou sabê-los?

Do livro: “CADA POESIA UMA HISTÓRIA”, 29/10/2001.
Dedico-o a LUCIANE TREVEJO, minha filha adotiva.

sexta-feira, 15 de abril de 2011



" LEMBRANDO EM CADA RISO TEU QUALQUER BANDEIRA.....
FECHANDO E ABRINDO A GELADEIRA A NOITE INTEIRA....."

(BOM MESMO É TER HISTÓRIAS PRA CONTAR.
LEMBRAR É VIVER DUAS VEZES.)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Que porre, hein...


                                                   


Eu, na condição de curiosa, em  que me classifico, vivo fuçando textos, garimpando alguma coisa atual que seja interessante e que saia do lugar comum.
O que mais tenho encontrado, são blogs de pessoas se auto -promovendo, falando de suas inesgotáveis qualidades, e do quanto são felizes e especiais para si mesmas e para o mundo que as cerca.
Gente,  me poupem.
Queremos ler textos de pessoas normais, reais , concretas.
Eu sou uma pessoa que adora coca cola e por isso tenho celulite.
Com o passar dos anos, minha cintura , assim como meus braços, estão engrossando.
Vou fazer lipo assim que as finanças permitirem, pois sou fútil, gosto de me sentir bonita.
Adoro ter meus cabelos lisinhos, com aquele movimento que só o cabeleireiro sabe proporcionar.
Mas faço escova em casa pra economizar a grana e poder comprar livros ou alugar bons filmes.
Adoro perfume, mas só os importados, desculpem, não sou humilde.
Sou impaciente, intransigente, espero sempre a perfeição de mim e do outro.
Mas  não sou perfeita.
Jogo os cabelos que caem no chão do box  pelo vitrô.
Deixo pra estudar na véspera e passo todo meu tempo de sobra lendo livros que acho horríveis e densos , mas que depois, me deixam uma bagagem imensa, porém, não sei onde utiliza-la.
Gosto de muita gente, sinto saudades, mas a recíproca nem sempre é verdadeira.
Acordo de olhos inchados, parecendo uma monstra e isso tira meu foco da magia que é ver o despertar do sol.
Compro coca cola no posto, tomo dois goles e fico procurando alguma criança no sinal, morta de sede pra dar a latinha. Mas só as encontro quando não tenho  nem uma moeda a oferecer e isso me irrita.
Brigo e não peço desculpas nunca. O máximo que consigo fazer, é me reaproximar, com cara de tacho.
Em momentos  de estress, não penso, não vejo e não ouço nada, e nesses momentos, magôo as pessoas, ao ignorá-las, sem nem me dar conta disso.
Muitas  vezes me sinto só, mas não ligo pra ninguém pra vir em casa tomar um café com creme, ou um suco gelado.
Com meus 40 anos, não tenho a menor certeza do que vou ser, do sei fazer melhor, se vou chegar a algum lugar que valha a pena.
Duvido cartesianamente do amor e das pessoas, pois a vida me mostrou que as coisas devem ser assim.
Mergulho de cabeça e no meio da queda, quero voltar pra trás, tentando me agarrar a algo que me segure, pois tenho medo do quanto o mar é fundo e não quero me afogar.
Roo a cutícula quando nervosa, odeio quando balançam a latinha de coca cola pra ver se ainda tem algo dentro, e com isso, acabam com o pouco do gás restante.
Tenho horror a gente sem ética, sem moral, sem bom senso e ao invés de simplesmente as ignorar, eu me incomodo com elas. Ou seja, me deixo abalar por qualquer fator externo.
Sou a única , numa fila de banco, a discutir com a mãe que deu um tapa na cara da filhinha, enquanto as demais pessoas, simplesmente fingem não notar, ou seja: sou muito, mas muito encrenqueira.
Não bebo e odeio gente bêbada.  Pessoas sem noção, alteradas, falando alto, gesticulando sem classe, sendo inconvenientes, me incomodam. E se eu bebo,  me torno igualzinha a eles . E vomito.
Parei de fumar por achar ridículo um vício ser mais forte que eu , mas isso é um discurso hipócrita, já que sou viciada em coca cola.
Sou chata, sou brava, intransigente, mas seria injusta se dissesse que o mau humor faz parte da minha personalidade. Alegre e divertida eu sou, e muito, quando a vida me permite ser.
Não aceito a morte de pessoas queridas, não aceito a miséria em que vivem milhares de trabalhadores e não tenho a menor esperança de que as coisas irão mudar.
Gosto muito mais de transar do que ir à missa.
Tomo pouca água, como  frituras , e não faço caminhada.
Odeio gente falsa e chata, que se acha de fato o máximo.
Adoro ouvi-lo rindo na sala assistindo Seinfield ou Friends.
Adoro a risada dela, alta e exagerada como a do pai,
Mas não suporto a bagunça que ela deixa pela casa e por  falta de calma e equilíbrio,  isso acaba sempre  em brigas homéricas.
Não me incomodo de dormir com a louça por lavar,  mas não durmo sem banho, nem que a vaca voe.
Tenho horror a ginecologista e a dentista, embora nunca deixe de ir.
Tenho o terrível habito de deixar pra me maquiar no ultimo instante.
Odeio rolo de papel higiênico vazio .
Odeio a possibilidade de saber que numa guerra nuclear, eu vou, as baratas ficam.
Odeio  saber que a realidade é que as pessoas  mentem, independente de suas razões.
E definitivamente, detesto, com todas as forças do meu ser, gente boazinha que se acha o máximo, acorda de bom humor  e fala o quanto é boa e acha tudo lindo e maravilhoso: “Eu sou isso e também sou aquilo!” “Eu sou assim e assado!”
Ah, que saco , hein !Deus me livre ser Sandy, que só pega o Lucas Lima!
Eu sou um porre, me desculpem, mas essa sou eu e eu sou de verdade , e  são pessoas como eu, que encontro pela vida , o que me faz pensar que estou no mesmo planeta que os demais.
Já as pessoas perfeitinhas, nunca vi, nunca ouvi falar, a não ser pelos textos de auto-definição, tão fakes quanto elas mesmas....