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quinta-feira, 15 de julho de 2010

Tróia



Lívia está crescendo, e em meio a tantas dificuldades que permeiam educar sozinha uma filha de 11 anos de idade, vejo que existem também, momentos que compensam tudo.

Assistimos Tróia .
Ela, pela primeira vez, pelo interesse aguçado pelo professor de história.
Descobri que temos mais em comum do que o gênio indomável , alguns traços na face e o jeito de chorar.
Ela também sucumbiu ao caráter e a hombridade de Heitor .
Viu em Páris um menino mimado e apaixonado e em Aquiles, nada que vá muito além da beleza de Brad Pitt, que até então, ela, menina, ainda não havia observado.
A morte de Heitor, teve para ela, o mesmo pesar que carreguei comigo a vida toda. Creio ter sido o meu primeiro entendimento de que nem sempre o justo vence e que a Lei do mais forte, muitas vezes prevalece e que a vida é assim e pronto.
Sempre quis poder reescrever a história, ver Tróia inteira, em paz.
Penso que o universo precisa e sempre precisou de trégua, de um pouco de compreensão.
Guerra leva a Guerra, ódio gera ódio. São sentimentos cumulativos.
E afinal, não existe nenhuma Helena que justifique tanta desgraça, tanta dor , tanta morte e devastação.
Dez anos de guerra por causa de uma mulher, do orgulho ferido de um Menelau que não sabe perder e não sabe que amor, não se exige, não se compra. Amor se conquista, amor é algo que flui, ou não (apesar de sabermos que não se guerreou por 10 anos pela mulher de Menelau e os interesses pelo poder sobrepujaram o amor).
Aquiles , filho da deusa Tétis, que ao nascer teve seu corpo mergulhado e segurado pelos pés no rio Estige, é invulnerável. Algo como um troglodita semi-deus.
Heitor, um simples mortal, como eu e você. Porém, a meus olhos e também aos da Livia, o nosso herói. Irmão de Páris, que encaixa-se completamente na frase: O duro é roubar e não poder carregar.
Nessa história, a mais emblemática que tenho conhecimento, o amor de Páris e Helena perdem o foco e ele se volta justamente para a Batalha entre Aquiles e Heitor.
O primeiro, mais do que vencer a Guerra, quer a cabeça de Heitor, o assassino de seu pupilo Pátroclo (sim sim, sim….Até tu, Aquiles???). Heitor, na verdade, matou Pátroclo pensando se tratar de Aquiles, aquela máquina de matar a quem Brad Pitt emprestou sua beleza e algum sentimento, o aniquilador sanguinário, ou ao mais bravo guerreiro grego de todos os tempos. Como meu leitor preferir classifica-lo. Eu gosto de pensar em Aquiles como um homem com algumas qualidades, mas que deixa a vaidade dominar sua existência. Aquiles nunca guerreou por um ideal, por um Rei, ou uma nação. Aquiles guerreava por si , por seus feitos, pela imortalidade do seu nome através da história.
Para vingar-se de sua viuvez , Aquiles mata Heitor e todos temos nosso coração aniquilado ao ver e rever sua morte, a humilhação de ter seu corpo arrastado diante de toda uma Tróia, a Tróia que Heitor sempre defendeu digna e bravamente. Troia se vê imobilizada diante da dor de ver seu filho mais honrado perecer de tal maneira.
Depois, vemos um Príamo, que deixa sua coroa e sua dignidade e vai a procura de Aquiles, pedir o corpo do seu filho de volta, para que sua alma possa fazer a travessia com dignidade.
Que história é essa, meu Deus…
Então estamos diante de um Aquiles novamente humano, entrega o corpo de Heitor a seu pai, que volta com seu filho nos braços, dando a ele a oportunidade de descansar em paz.
E mesmo assim, veja você, somos humanos mesmo! Quando Páris resolve fazer algo de útil nessa trama toda, além de comer sua Helena, atira a tão famosa flecha, que acerta o calcanhar, justamente o calcanhar de Aquiles, a pequena parte que não foi banhada pelo rio Estige e portanto, não estava protegida pelos deuses.
Sempre penso nisso e não entendo porque Tétis não o mergulhou no bendito rio segurando-o pela orelha ou pelos cabelos. Afinal, ninguém morre pq teve a orelha atingida. Desconfio que Tétis era loira…
Enfim, eis que tomba o gigante . E a gente lamenta sua morte.
Vai entender o ser humano….Acho que fomos criados para a vida, para o bem viver, para o perdão.
Ninguem devia morrer. Nem mesmo Aquiles.
Mas minha mais triste mágoa é pela morte de Heitor. Um homem que representa a figura extraordinariamente inspiradora de uma dignidade e humanidade comoventes.
Nenhuma outra historia reuniu tantas figuras arquétipas:
Príamo, o rei soberano, compreensivo e generoso.
Aquiles, sua bravura e sua vaidade indomável.
Heitor, e toda a sua dignidade e coragem.
Ulisses e sua astúcia e inteligência.
Agamenon e sua infinita prepotência.
Menelau e seu orgulho ferido, seu não-saber-perder.
Helena e sua beleza angelical e sedutora.
Páris e sua frivolidade.
Eis uma história atemporal, que discorre sobre personagens fantásticos que certamente existem, mesmo que em pequenas doses, em cada um de nós, e em todos os núcleos, seja hoje, ontem ou amanha.
Fico de fato feliz ao perceber que a preferência de minha filha recai sobre Heitor, me acalma a alma vê-la identificar em meio a multidão o que é um exemplo de coragem, “pois a coragem é característica humana por excelência sem a qual, nenhuma outra seria possível existir” (Aristóteles) .
Me deixa orgulhosa saber que ela compartilha comigo o mesmo pesar por Heitor: O simples mortal, o homem com seus valores, com sua coragem, o defensor de muralhas, o domador de cavalos, um herói sem artifícios.
Por que de Aquiles, esse mundo já está cheio.

7 comentários:

  1. Eu queria uma filha pra partilhar comigo experiencias de vida e entendimentos como voce fez com Livia.

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  2. Seus textos estão cada vez mais interessantes!
    É realmente delicioso dividir com nossos filhos momentos assim, e já dá pra notarmos carcterísticas de sua personalidade, (sempre boa aos olhos das mães, hehehehe .E que assim seja!)
    A Sarah assiste, me faz perguntas que me assustam muitas vezes: "Mas onde ela ouviu isso??"
    Lu, continue nesse ritmo! Seus textos nos faz bem!

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  3. Uma história fascinante. E graças ao sr Schliemann mais do que uma história.
    Mas pela maneira de contar, as vezes penso que os gregos inventaram uma espécie de analise terapêutica muito antes do sr Freud.
    E o que Édipo tem a ver com isso (?) é um assunto muito complexo.

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  4. E pensar que tudo começou com um bendito concurso de beleza no Olimpo.Penso que se tivessem jogado Páris da montanha ainda bebê como a profetiza ordenou nada disso teria acontecido kkkkkkkkkkkkkk.
    Amo a versão feminista da Norte Americana Marion Zimmer Bradley,O Incêndio de Tróia,tem as mesmas questões da Ilíada,de um ponto de vista feminino,há e fala bastante de Enéias,o héroi que segundo Virgílio foi o fundador de Roma,muito legal mesmo essa versão.
    Como é gostoso né quando percebemos que eles gostam da mesma coisa que nós,tem os mesmos trejeitos,as mesmas idéias,e quando percebemos isso,sentimos uma pontinha de orgulho,é como se tivessemos fazendo bem o nosso trabalho de mãe.
    Bjs...

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  5. Nossa! Que lindo!!
    E a Lívia...com suas frases...já nasceu inteligente!
    E vc, é e sempre será...Lú Trevejo...E tenha muito orgulho disso, sempre!
    Beijos
    Diana Maia

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  6. E você viveu uma grande parte disso tudo, né Diana.
    Tenho orgulho de muitas coisas e me envergonho de muitas outras.
    Uma delas é de algumas vezes não ter enxergado você, ou de ter me deixado influenciar por pessoas más.
    Mas um dia eu te vi, vi quem morava por trás da Diana e isso me trouxe muita alegria.
    Hoje eu sei que você me quer bem, e isso sim, me cobre de orgulho.
    E eu também te quero um bem enorme...
    Bjo no seu coração.

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  7. Adoooooro esse filme!
    Tanto o roteiro, quanto a produção, os atores, a história em si. TUDO, tudo mesmo nele.
    Isso deve ser porque amoo filmes de época e sou louca da vida por história!

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