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quarta-feira, 17 de novembro de 2010



A SAUDADE DELES TÁ DOENDO EM MIM

Não adianta.
Nessa época do ano, a saudade toma conta de tudo.
Perdoem, é uma fase, vai passar, sempre acaba passando.
O fato é que quanto mais vivemos, mais perdas vamos colecionando.
Até pouco tempo eu era orgulhosa em dizer a todos os meus amigos que tinha meus avós maternos e paternos ainda vivos e muito saudáveis.
Eu tinha uma família linda!
Por conta de minha mãe ter mais irmãs que meu pai,e morarmos no inteiror, a casa da vovó era sempre mais cheia.
Mas a casa de meus avós paternos também me encantava. O cheiro da casa, a escada que levava até o quintal, as novidades da capital em épocas que ainda não havia a globalização...
A primeira vez que vi um microondas funcionando, foi lá. As maiores TVs, as novidades cibernéticas, o charme dos cabelos grisalhos e bem cuidados de minha avó, a fineza e o charme de meu avô. A casa tinha cara de férias pra mim. De lá, sempre íamos pra praia, playcenter, shopping centeres...
Primeiro foi meu avô, depois minha avó. Por ultimo, meu pai.
VÔ Henrique era tão lindo, tão elegante e inteligente... Ele sempre vinha me ver, não importando as adversidades. Calmo e paciente, ah, como eu amava vê-los chegar!
Vó Nadir com seus lindos cabelos brancos e seu cheiro de perfume de avó. Lembro-me dela comendo suas frutinhas frescas, assistindo TV ao lado do vô. Sua pia era sempre tão branquinha, a casa tão limpa e vê-los sentados naquele sofá da sala me trazia felicidade.
A casa do interior, a mais movimentada, era habitada por filhas, genros, netos, vizinhos , agregados e quem mais quisesse chegar.
O cheiro do feijão, do pão, do café fresco, do peixe frito e do fumo de corda eram uma constante. A casa não tinha trancas nas portas e se tinha, nunca era usada.
Por lá, se a alegria era maior, as perdas foram maiores também.
Meu tio Gallo era um homem bonito, recém casado, recém pai do Alê. De olhos verdes, pouco mais de 27 anos quando se foi, deixando uma linda e jovem viúva e seu filhinho pra trás. Na foto ele aparece abraçado com ela, num domingo qualquer de carnaval, pouco antes de ir embora. As fotos do jovem com seu filhobebê também é ele, e o Alê.
O Alê foi crescendo, e se tornou uma pessoa extremamente popular e querida de todos. Era o cara que qualquer um olha e diz: poxa, como esse cara é feliz! Esse tem sorte na vida! Vai longe! Não conseguiu chegar a cidade onde ia com os amigos apresentar-se num festival de musica. Elegi aquela como a pior noite de toda a minha vida e noites difíceis se sucederam , e ela continua sendo a pior de todas.
Depois foi a vez do nosso agregado mais amado: Waldir Gatto, o Gattão. Na foto pode-se ver o Alexandre com olhos cansados, ainda pequeno em seus braços. Era o tipo de um pai postiço. Pro Alê e pra todos nós. Um belo gajo,solteirão convicto, topete grisalho, sempre presente em todos os momentos da nossa vida. Lembro que ele nos enfiava dentro de uma carrocinha dessas de pedreiro, e saíamos passeando pela cidade.
Ninguem tinha medo de trânsito, nem de ladrão e todos confiavam-se mutuamente. Dele, ganhávamos muitos presentes. Era a época da inocência e não nos dávamos conta disso.
O vovô , não posso falar dele. Só digo que foi o homem que mais amei e foi através dele que criei minhas referência masculinas e talvez seja por isso que me tornei tão exigente.É ele deitado em seu sofá, abraçado a mim e a mochilinha. É ele ao lado da vovó, é ele vestido de cangaceiro, é ele com a mochilinha ainda bebê nos braços. Viveu até os 103 anos e pra mim, foi pouco demais. Quando ele se foi, minha vida virou uma saudade que não tem fim, não dá trégua, nem arrego.
Meu pai foi a mais recente perda. Na foto, sentado ao lado do vovô, foi num dia em que ele veio de Recife pra São Paulo e sabendo do estado de saúde duvidoso do véio Américo, veio visita-lo, o que trouxe uma enorme alegria a todos. É ele também abraçado a mim na varanda do seu apartamento em Recife, é ele sentado no chão , observando a mochilinha brincar, pular, pular e de repente cair em sono profundo lá mesmo, no chão da cozinha.
Essas pessoas foram as mais importantes na história da minha existência. Uns foram embora cedo demais, outros nem tanto e outros aproveitaram até o ultimo momento da viagem.
A casa da minha existência sempre será incompleta sem a presença deles . Existe um vazio no tapete da sala de estar, , no quintal, na cozinha, na calçada da minha vida.O lugar de cada um ficou vago na mesa . Outras pessoas vieram e ainda virão, mas a ausência deles será sempre presente, e naquela mesa, sempre estará faltando ele, e a saudade dele, vai doer sempre em mim.

2 comentários:

  1. Sem maiores comentários: foi o seu post mais lindo até hoje. Uma homenagem maravilhosa de uma filha, uma sobrinha, uma neta muito amada.
    Um beijo, Lu.

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  2. Ai, Livia,
    Obrigada pelo seu carinho!
    Eles realmente deixaram a mesa vazia....
    beijao pra vc!

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Sabia que somente pessoas especiais postam comentários aqui?